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terça-feira, 6 de novembro de 2007

Bronca no Real.

por Paulo Veríssimo no jornal A Bola

Fraude com bilhetes
Prática de gerar receita superior à habitual corre mal e adeptos do Atlético denunciam clube de Massamá.

O Real, da série D da 2ª divisão, praticou uma irregularidade no jogo com o Atlético, ao vender quotas suplementares de épocas anteriores, fazendo-as passar por bilhetes oficiais. O número de ingressos vendidos aos adeptos alcantarenses não coincide com a receita apresentada à Associação de Futebol de Lisboa. Os sócios alcantarenses denunciaram a fraude.

O Real-Atlético, relativo à sétima ronda da série D da 2ª divisão, que se realizou a 14 de Outubro, pode esconder irregularidade de dimensões imprevisíveis. Isto porque o clube de Massamá vendeu aos adeptos do clube de Alcântara quotas suplementares emendadas à mão, com um valor acima do previsto (em vez de três, o Real cobrou 10 euros). Mas não é o custo que está em causa.
Tudo começa no dia dois. A Direcção do Real envia um fax para a Associação de Futebol de Lisboa (AFL) a solicitar 50 bilhetes com o valor facial de 10 euros. Esta autoriza, mas alerta para a necessidade de emitir mais ingressos, justificando que o Atlético leva muitos adeptos aos campos. Porém, o clube de Massamá refuta com o facto de ter em stock mais algumas dezenas para vender, que sobraram de outros jogos.
No dia da partida, os bilhetes foram todos vendidos, como já se previa, e o Real recorre a quotas suplementares de outras temporadas, fazendo-as passar por bilhetes. Foi aí que se instalou a indignação nos alcantarenses. No total foram vendidos três tipos de bilhetes e, curiosamente, todos diferentes: os oficiais e os rasurados de 2005/06 e 2006/07. O problema é que essa prática é, por si, ilegal, segundo a Federação Portuguesa de Futebol.
No entanto, Carlos Ribeiro, presidente da AFL (entidade responsável pela organização dos jogos da 2ª divisão), não pensa da mesma forma, considerando que a atitude não justifica medidas disciplinares.
Mas há ainda outro aspecto importante, que não está completamente escalpelizado mas suscita dúvidas.
Segundo o mapa financeiro do Real-Atlético, foram vendidos 123 bilhetes a 10 euros e nove de cartão jovem — existe ainda o número de quotas suplementares vendidas a sócios. Porém, do lado do Atlético assegura-se que estiveram em Massamá mais de 200. Colocando-se este cenário, o Real terá recorrido numa prática irregular e de fuga ao Fisco, uma vez que aproveitou parte da receita, que não será tributada pelo Estado.

Carlos Ribeiro promete averiguar
O presidente da associação, Carlos Ribeiro, rejeita a prática de fraude por parte do Real, pois, diz, confia no «bom senso dos dirigentes».
Mas avisa que vai informar-se melhor:
«Não acredito que haja fraude, pois o mapa financeiro confirma que foram vendidos mais bilhetes [123] que o número de pedidos [50]. No entanto, farei uma averiguação interna para tentar descobrir se tal aconteceu. Não vejo grande problema em vender quotas suplementares rasuradas. Diga-se que não é muito correcto, mas nunca seria penalizado, pois não prejudica o Estado.»
Mesmo assim, não descarta a possibilidade de a denúncia dos adeptos alcantarenses ser verdadeira. «Se tal for verdade, é caso para ser levado a Ministério Público, pois é crime», ressalva.

José Manuel Flores e Luís Howell denunciaram irregularidade
«Havia três tipos de ingressos»
José Manuel Flores, sócio do Atlético, e Luís Howell, proprietário do jornal do Atlético, denunciaram a situação e decidiram dar a cara neste processo, pois acusam que aquilo que o Real fez também deve ser feito em muitos campos em Portugal.
O primeiro esteve mesmo na confusão popular que se gerou nas bilheteiras em Massamá, antes do encontro, e contou como tudo se passou. «Quando lá cheguei estava uma grande fila de pessoas indignadas, para já, pelo valor e, depois, pelo facto de receberem um bilhete emendado a esferográfica. Cada um tinha um bilhete da sua nação. É completamente ilegal fazerem uma coisa daquelas e quando me dirigi ao fiscal da associação, disse-me que não sabia o que fazer. Quantos adeptos estavam no estádio? No mínimo, estavam 200, mas não consigo precisar», explanou, deixando uma pergunta ao Real:
«Pensava que as pessoas do Real eram sérias. Vi uma entrevista do presidente, José Libório, a dizer que o dinheiro do Nani iria ser aplicado nas infra-estruturas e, na volta, fazem uma coisa destas. Onde estavam os dirigentes do Real na altura em que isto se gerou?»
Luís Howell, sócio, é mais objectivo no número de adeptos alcantarenses que assistiram ao jogo em Massamá. «Acompanho o Atlético nos jogos fora e naquele foram mais de 200 adeptos. Certamente que lá estavam 250. Não estou a exagerar», alerta.
Dois testemunhos que não coincidem com os números da Associação e que deixam no ar a prática de fraude.

Regulamento Disciplinar
Emenda vale multa
A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) envia todos os anos para as associações um número estipulado de bilhetes e, ao contrário do que preconiza o presidente da AFL, Carlos Ribeiro, não permite que os mesmos sejam rasurados ou falsificados, muito menos que os clubes vendam quotas suplementares adulteradas. Contudo, enquanto o caso não se tornar oficial nada pode fazer, pois ainda não houve qualquer queixa por parte dos lesados.

Mesmo assim, o Regulamento Disciplinar da Federação, no artigo 81º, referente a irregularidades nos ingressos, pune o clube que em jogo oficial proceda à venda de bilhetes não fornecidos ou autorizados pela FPF com uma multa que pode ir de 1000 a 2000 euros ao lesado e, por vezes o dobro, caso desvirtue o movimento financeiro do jogo.

Um comentário:

jvn disse...

De facto, de novos investimentos em infraestruturas só vi a colocação de estruturas para novas bancadas para o campo de baixo, de relva sintética, e uma terraplanagem de pequenas dimensões, junto ao campo Nº2. Vamos aguardar e acreditar sempre nas pessoas (até prova em contrário).