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segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Sintrense - Cacém (visão Sintrense)

Retirado do site do Sintrense
por
Jorge Cardoso e Nuno Silvestre

Antes de falarmos propriamente das incidências do derby sintrense que opôs Sintrense e Cacém, preocupa-nos para já, o estado do futebol nestas divisões secundárias.

No Estádio do Sport União Sintrense, e segundo dados a que tivemos acesso, venderam-se 105 bilhetes de associado e mais 30 para o público em geral, o que totaliza 135 assistentes pagantes, porque depois existem os mais diversos cartões de acesso gratuito aos jogos. Estariam não mais do que 150 pessoas no Estádio do Sintrense. Isto num derby sintrense, onde não há muitos anos, estariam perto de um milhar de pessoas ou talvez mais.

Dá que pensar e muito. Tudo isto porque a receita deste jogo será para pagar à AFL, FPF, GNR e a toda a restante logística da organização. Por outras palavras, e segundo os dirigentes do Sintrense, “é mais um jogo para dar prejuízo, e a grande questão aqui é que, e perante estes elementos, como é que os clubes podem pagar ainda subsídios a jogadores, treinadores, médicos, enfermeiros e tudo o que esteja à volta de uma equipa de futebol sénior” ?.

Não nos espanta, que quando abrimos os jornais desportivos diários, vejamos clubes a fechar as portas e a desistir do futebol sénior. Este estado de coisas na 2ª divisão e na 3ª Divisão tem forçosamente que mudar, pois estamos a caminhar a passos largos para o “enterro” do futebol em Portugal. E a agonia já vem de há muitos anos a esta parte, é só contar o número de clubes destas divisões que fecharam as suas portas.

É um alerta que deixamos à Federação Portuguesa de Futebol, às Associações de Futebol, aos dirigentes, técnicos, jogadores, clínicos e Liga Portuguesa de Futebol Não Profissional. Torna-se urgente uma rápida intervenção, pois caso contrário, este futebol, tal como o conhecemos em tempos idos, acabará por MORRER !.

Razão tinham alguns espectadores com quem falámos à saída das bancadas do Estádio, pois heróis são os dirigentes que têm que “inventar” receitas para isto tudo, construindo infraestruturas e algumas fontes de rendimento para segurar o barco. Outro aspecto negativo é o preço dos bilhetes: 8 euros era quando custava um lugar no Estádio, ou como dizia um adepto do Cacém, que “com 12 euros foi ver o Benfica-Sporting e ficou bem instalado, sem apanhar chuva, vento ou frio”.

Vamos então à partida que colocou frente a frente o Sintrense e o Cacém, no sempre apetecido derby do concelho. A estas horas, certamente que os adeptos do Sintrense perguntam a si mesmos, como foi possível perder esta partida?. E têm razão para pensar dessa maneira. Embora o Cacém fosse a equipa que melhor entrou no jogo, e que dominou nos primeiros vinte minutos, foi o Sintrense que dispôs depois das melhores oportunidades de golo, que jogou melhor, mas cuja estrela da sorte andou arredada da equipa.

Um tanto surpreendentemente, ou talvez não, o técnico do Sintrense, Paulo Morgado, apostou no ponta de lança, Josué, ex-júnior do clube, deixando Nuno Duarte no banco. No esquema táctico da equipa, e em relação aos últimos jogos, o técnico do Sintrense apostava num homem mais fixo na frente de ataque, capaz de, e pela sua envergadura física, de dar trabalho aos centrais do Cacém. Josué cumpriu na íntegra esse papel. Para além de marcar o golo da equipa, foi o homem que ganhou constantemente a bola nas alturas, embora esses ganhos não tivessem resultados práticos.

Josué é o típico ponta de lança, que pode dar felicidade a um “rato-de-área” que jogue a seu lado, no aproveitamento destes lances. O “miúdo”, recentemente convocado para a selecção de sub-20 da AFL, lutou até à exaustão e deu “água pela barba” aos centrais do Cacém, marcando de cabeça, um excelente golo aos 53 minutos, sem hipótese de defesa para Tecelão. Neste capítulo, o técnico do Sintrense tinha ganho a aposta em Josué, e o ex-júnior demonstrou ao seu técnico que está ali para lutar por um lugar no onze. É sempre com alegria que vimos jovens com valor subir aos seniores. Josué é um desses casos. No restante onze, a boa nova foi o regresso de Angel à competição, embora ainda sem o ritmo competitivo necessário, e que fez dele, peça influente no xadrez sintrense.

No Cacém, João Raimundo apostou num onze da consistência, com dois alas muito abertos para os contra ataques (seria assim que obteria o golo da vitória), e com um meio campo reforçado no intuito de tapar as linhas de passe ao capitão do Sintrense, Paulo Vieira, principal impulsionador do jogo de ataque da equipa da casa. Nas laterais, duas peças extremamente importantes no apoio ao ataque, num vai e vem constante, mas com o resto da equipa a suprir esses espaços vazios, com um enorme espírito batalhador, pressionando o adversário e tentando tapar todos os caminhos para a sua área. Este esquema de João Raimundo deu-lhe frutos, pois nos primeiros vinte minutos, a sua equipa foi quem dominou, muito por culpa de Paulo Vieira ter alguns caminhos tapados para desenvolver o seu futebol.

Essa melhor entrada do Cacém na partida, não significou oportunidades de golo na área do Sintrense, muito por culpa do central Walnei, que hoje fez o melhor jogo desde que está no Sintrense. Jogador mandão, orientando a sua defensiva e saindo sempre a preceito com a bola dominada, dando sempre jogo aos seus companheiros. Um jogador que começa a conhecer os cantos à casa e a ter todas as possibilidades de mostrar o seu grande valor. Embora perdendo, e sem exageros nenhuns, este foi o melhor jogo da equipa do Sintrense em jogos oficiais nesta época. Paulo Morgado fez acertos no xadrez da sua equipa quando percebeu as intenções da táctica adversária, libertando ainda mais Paulo Vieira, que paulatinamente começou a pegar na batuta da equipa, bem secundado por todo o meio campo do Sintrense.

A equipa começou a surgir mais perto da área de Tecelão e as oportunidades começaram a surgir, muito por culpa do jogo aéreo de Josué, que ia dando o melhor seguimento aos cruzamentos dos seus colegas. Como se disse, pena foi que não existisse um maior aproveitamento dessas “deixas” do ponta de lança do Sintrense. Aos 40 minutos, ficamos na dúvida de um lance dentro da área do Cacém, existe mão na bola, ou bola na mão de um defensor contrário? O juiz lisboeta, Luís Brás, nada assinalou, perante grandes protestos dos adeptos sintrenses. Já na segunda parte, o mesmo fez a uma pretensão do ataque do Cacém, num lance quase idêntico de um defensor do Sintrense.

O Sintrense, depois de vinte minutos iniciais de domínio do Cacém, equilibrou a partida e terminou a primeira parte a dominar a partida, pecando no último terço do terreno de jogo.

Para a segunda parte, o jogo melhorou de qualidade. Uma partida mais aberta, com mais oportunidades de golo e mais emotiva aos olhares do público presente na bancada. Aos 53 minutos, Josué de cabeça, proporciona um golo de belo efeito, após cruzamento na esquerda do seu ataque. Nas alturas, o ex-júnior sintrense foi rei e senhor, não dando hipóteses de defesa a Tecelão. O Sintrense chegava à vantagem merecida, fruto de uma melhor circulação de bola entre todos os sectores, de um futebol mais em profundidade, e acima de tudo, mais objectivo.

Logo após esse golo, o mesmo Josué teve oportunidade única para “matar” o jogo. Não quis ser egoísta e atrasou a bola de cabeça para um remate de um colega seu, que não apareceu a finalizar, quando poderia ter optado pela baliza de Tecelão, com este já batido. Como quem não marca... aos 61 minutos, o Cacém beneficiou de um livre quase em zona frontal à baliza de Renato, e Rodinhas não perdoa, fazendo um golo de belo efeito.

Da bancada, parece-nos que a barreira do Sintrense estaria mal formada, mas isso não tira o mérito a Rodinhas. O Cacém igualava a partida, e seria curioso ver a reacção de ambas as equipas. Pelo meio, Sapo, via o 2º amarelo, e a equipa do Cacém ficaria reduzida a dez unidades. Mais dificuldades para a equipa forasteira. À semelhança do Sintrense no primeiro golo, o Cacém quase que marcava o 2º golo, dois minutos depois, valeu ao Sintrense a pontaria desafinada de Casquinha.

Com a expulsão de Sapo, João Raimundo acerta as suas peças em campo, retirando Quináz, e fazendo entrar Andrade, reforçando o seu meio campo. Paulo Morgado responde, com a entrada do ponta de lança, Nuno Duarte, para o lugar de Miguel Abreu. O jogo abria mais, e o Sintrense melhorou significativamente o seu poder ofensivo. A partir daqui, a equipa lançou-se no ataque na procura do 2º golo, oportunidades atrás de oportunidades, jogando em velocidade e em mudanças de flanco, desgastando o último reduto do Cacém. Nuno Duarte e Josué, aos 71 e 73 minutos, falharam duas claras oportunidades de golo.

A superioridade sintrense fazia-se sentir, e o Cacém sentia dificuldades em segurar o ímpeto atacante dos da casa, jogando muitas vezes feio no alívio. João Raimundo manda entrar Flávio para o lugar do desgastado Ivo Ribeiro, enquanto que Paulo Morgado opta por mais um atacante (Ronaldo) na tentativa de desbaratar a defensiva contrária. Aos 82 minutos, o Sintrense vê Josué falhar por milímetros o golo, num vistoso pontapé em arco.

Dois minutos depois, os atacantes sintrenses vêem uma bola ser devolvida pela trave da baliza de Tecelão. Quase em cima dos 90 minutos, Nuno Duarte falha incrivelmente o segundo golo. O Sintrense tentava a vitória a todo o custo. O Cacém tentava quebrar o ímpeto atacante dos da casa, e num pontapé de baliza, foram três os cartões amarelos mostrados a jogadores seus, por demora de reposição de bola em jogo. Estava escrito que esta não seria a tarde do Sintrense, e aos seis minutos de compensação, num lance perdido no meio campo do adversário, o Cacém em puro contra ataque chega ao golo da vitória, por Ivan. Era um balde de água fria para a equipa do Sintrense e para os seus adeptos. A equipa, balanceada no ataque, na procura da vitória, sofre o golo da derrota num lance típico de dois para um. Não merecia tamanho castigo, mas o futebol é mesmo isto. Ingloriamente perdeu três pontos, quando tudo teve para merecidamente os ganhar.

Foi mais esperta a equipa do Cacém, e sobretudo mais feliz nesta partida. Ao Sintrense faltou-lhe a estrela da sorte, num bom jogo da equipa, com Paulo Morgado a lançar a “carne toda para o assador”, mas a ser infeliz. Que esta estrela arredada de Sintra, surja em Vendas Novas no próximo domingo, frente ao Estrela local.

Quanto ao árbitro da partida, e embora já se falasse aqui nesses dois lances de possível penalidade (um para cada equipa), acabou por fazer um trabalho aceitável. Mostrou dez cartões amarelos e um vermelho a jogadores visitantes, destacando-se a parte final do jogo, ainda antes do golo da vitória do Cacém, uma situação algo caricata, nessa demora na marcação de um pontapé de baliza.

Um comentário:

Anônimo disse...

Quero dar os parabéns aos srs jorge cardoso e nuno silvestre pela primeira parte dos comentários ao jogo de domingo, já que o que escrevem é a verdade. Os heróis são realmente os dirigentes desportivos e cada vez existem menos e com mais dificuldades. Colocaram o dedo na ferida e essa é a realidade. Era bom que muita gente lesse o que está escrito nesses primeiros comentários. O futebol está muito mal nestas divisões.Parabéns por terem colocado o assunto na berra já que poderá ser objecto de reflexão.